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16 outubro 2006

Os Donos de África



Muitas vezes relegados para segundo plano, os verdadeiros donos de África continuam a ser os povos tribais. São eles os portadores da cultura, da arte e do espírito africano.
Em Angola existem dezenas de tribos e dialectos, e apesar da guerra ter originado muitas movimentações e descaracterização, existem tribos que nunca abandonaram os seus territórios. No Sul o caso é típico.
Os Mucubais vivem no deserto do Namibe e Serra da Chela. Na Huíla habitam os Mumuilas e os Nhanheca Humbe. No Cunene podemos encontrar os Cuanhama.
Muitos dos costumes e organização social são idênticos. O Soba é o chefe, uma espécie de patriarca, juiz e representante junto das entidades oficiais.


Os Mucubais
São um povo um pouco misterioso. A sua grande riqueza são os bois, e com eles um homem pode ter quantas mulheres quiser. Vivem em harmonia umas com as outras e são elas que trabalham nos campos e têm o máximo número de filhos para pastarem o gado.
Os homens limitam-se à gestão do trabalho e ao prazer. Andam semi-nus e cobrem-se apenas com peles e panos típicos e coloridos, não dispensando a catana. São capazes de percorrer dezenas de quilómetros num só dia e vivem muito isolados e pouco expostos.
Cada Mucubal dispõe de um kimbo (várias cubatas dispostas em círculo) onde reúne todas as mulheres e família.
Pouco sociais, não se fundem com outras raças, afiam os dentes e recusam-se a ir à escola.
Não são de muita confiança (avisaram-me para ter cuidado com os Mucubais) e são conhecidos por roubar gado às tribos em seu redor.
Desde a guerra de 1939, em que os portugueses os derrotaram e confinaram ao seu actual território, que ficaram com um certo rancor aos brancos.


Com a independência, alistaram-se no exército, para depois desertarem levando as armas. Foram os Mucubais que em 1975 impediram os sul-africanos de avançar no território em direcção ao Namibe. Desconhecendo o que se passava no resto de Angola, apresentaram-se a Agostinho Neto reivindicado o facto de terem ganho a guerra e implantaram uma “portagem” para atravessarem o seu território. O MPLA não deu a devida atenção a este facto, e o certo é que as relações entre este povo e o governo ainda hoje não estão normalizadas.
Tal como em muitas outras tribos, os herdeiros de um Mucubal não são os filhos, mas sim os sobrinhos, filhos da irmã. Assim têm a certeza de que os herdeiros são do mesmo sangue.
Apesar da poligamia ser usual, não é permitido o adultério. Este crime é punível com o pagamento de vários bois ao queixoso. Contaram-me que quando chega a época das chuvas, e um Mucubal não dispõe de bois suficientes para arar as terras, induz uma das suas mulheres a seduzir um vizinho rico, com o fito de que este seja apanhado em adultério e tenha de o retribuir com o pagamento em bois. Espertos, não?
Um certo general de origem Mucubal, cada vez que visitava o seu povo, era forçado a desfardar-se antes de entrar no seu kimbo e vestir os trajes típicos.

Muitas outras tribos existem em Angola e milhares em todo o continente africano. A sua vivência em estado que nós europeus consideramos primitivo, está impregnada de um espírito muito próprio e interiorizado pelos indígenas. A lógica das coisas é itinerante e muda conforme o local onde nos encontramos.
África não é para se perceber ou entender. É para se sentir e viver!!!

3 Comments:

At 1:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Para uma leitura mais profunda sobre a vida do povo Kuvale (mucubais) leia-se a obra de Ruy Duarte de Carvalho "Vou Lá Visitar Pastores" editada pela Livros Cotovia (1ªedição 1999, 2ª 2000). Bela fotografia!

 
At 9:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

n'Dele-n'Dele

anos correm, anos passam,
o que fica desta vida?
na transparência
do vidro da nossa
imagem ou coisa reflectida;
qual será a verdadeira?

perguntas que este "ocidental"
nunca a um vertical
mucubal
em equilíbrio pastoril
poderia fazer,
entre os seus plurais bois.

talvez,
se o acompanhasse,
e se com ele chegasse de noite à sua onganda,
poderia um dia compreender
o que faz um kuvale soar
as pedras n'Dele-n'Dele.

e assim,
porventura,
as indagações existencialistas
ficariam no outro hemisfério.

 
At 2:26 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Como macongino que sou, e residente em Lisboa,dou os parabéns ao autor das fotos sobre o Lubango,que me permitiu de novo recordar a cidade em que vivi desde os seis meses de idade até à vinda para Portugal em 76.

 

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