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11 novembro 2006

O Mercado do Chioco



Confesso que me senti um pouco inseguro quando cheguei a Angola. A reputação e as histórias que ouvimos em Portugal levam-nos a agir com alguma desconfiança. O choque inicial com o cenário e o ambiente também não favorece muito.

Dois dias depois de chegar ao Lubango, senti-me em casa. Muito por culpa de verdadeiros amigos que fui lá encontrar e me instalaram no centro da cidade.Comecei a dar umas voltas sozinho e topei logo que o Chioco, que fica lá prós lados do aeroporto, era uma zona a evitar.
Disseram-me: “se fores ao Chioco, nunca vás só. Nem penses em levar máquina fotográfica”, avisaram-me. A minha curiosidade começou logo a ficar aguçada e, pensei para comigo, “tens de lá ir, e com a máquina”.



O Chioco é um enorme bairro com casas de blocos de barro e telhado de zinco, tipo favela. No centro fica um enorme mercado diário, onde se vende e compra de tudo. Mas mesmo de tudo!
Transporte para lá, só de “candongeiro”. São os jeeps e carrinhas azuis que fazem rotas fixas, onde cabe sempre mais um e o preço de 50 kuanzas é fixo. Tem ainda cobrador que é o abre e fecha portas, viaja sobre o pára-choques e vai gritando o nome do destino: Santantóóinoo!!. São uma confusão, uns “speedados” e… (utilizar só em caso de emergência).


Os dias passaram, umas saídas para fora da cidade, e um dia pensei: falta o Mercado do Chioco.
Comecei a agitar as ondas e arranjei um grupinho. A meio da manhã já lá estávamos no meio da poeirada e do bulício de toda uma grande confusão.
O motorista (um abraço, Ari), disse que a troco de uns kuanzas nos arranjava uns amigos para nos acompanhar. Achamos que não seria necessário, mas por prudência, e por via das máquinas fotográficas, concordamos.


Cair ali quase de pára-quedas é uma loucura. Ruelas, valetas, barracas, buracos, bancas, muitas, muitas pessoas… indescritível. Vende-se tudo e tudo é negócio. Só visto!
Mobílias, electrodomésticos, pneus, água, caixões, fruta, vacas, salões de beleza, câmbios, … e há sempre os “saqueiros” que nos vão perseguindo na esperança de precisarmos de comprar um saco de plástico. A maioria dos produtos de consumo são baratos e importados da Namíbia.


A colorida zona dos panos e tecidos tradicionais foi onde nos fixámos mais tempo. Umas compras, mais umas voltas com os “guarda-costas” sempre a afastar os muleques e algum suspeito que aparecesse por perto, até deu para tirar umas fotos (nalguns sítios).
Pelo meio vamo-nos rindo com os letreiros publicitários e alguns quotidianos. Só de pensar, ainda hoje me rio.


Não será propriamente um local que inspire muito à vontade nem certamente o local mais seguro do planeta para um europeu, mas vale bem a visita.
De uma genuinidade que reflecte bem a vivência e espírito africano, este tipo de mercados são o principal ponto de encontro e abastecedor de toda uma enorme comunidade. Se pensarmos que o Lubango tem um milhão de habitantes, imaginem a confusão, e… a poeirada.
Fiquei a imaginar o lamaçal que seria aquilo na época das chuvas…
Tem todos os ingredientes para qualquer Rossini ou Spilberg rodar um filme.


Um abraço aos maconginos do Lubango, PM.